Seminário sobre Drogas na OAB-RJ - 01.04.11 - Minha Participação

A Importância dos Valores na Prevenção às Drogas

Mais de 95% da população brasileira acredita em Deus. E, esta mesma população acredita que a sua incomparável e inalienável dignidade tem origem na própria condição de ser criatura de Deus.

Ao longo de vários séculos o homem busca firmemente se apossar desta vocação natural e exclusiva. Portanto, a dimensão transcendente da pessoa humana lhe confere ser o sujeito e o fundamento de toda a vida social.

Nada na vida social e na sua consequente expressão pode negar ou deixar de reconhecer a pessoa humana como sujeito ativo e responsável, dotado de inteligência, consciência e vontade. A partir deste entendimento aberto e de elevadíssima condição é que devemos orientar a nossa visão antropológica e filosófica da existência e da projeção da vida humana no tempo deste mundo.

Acreditando nesta base de profunda densidade jamais poderemos permitir, admitir ou advogar que qualquer construção ou papel que venha a ser representado pela pessoa humana na história seja distorcida por imagens reducionistas e limitadores desta vocação de infinito.

É claro que esta visão humanista universal tem sua origem indiscutível na Sagrada Escritura, que fundou as bases e os alicerces da Civilização Ocidental Judaico-Cristã.

Aonde deveríamos buscar referências ou inspirações tão seguras para refundar às bases a nossa civilização? Em Nietzsche, Marx, Gramsci, Stalin, Mao Tsé-Tung? Certamente que não!

A pessoa humana deve ser compreendida na sua integralidade na dimensão material e na dimensão espiritual. É próprio reconhecê-la como imagem carregada de subjetividade. É um ser irrepetível de caráter único cuja história não é comparável a nenhuma outra.

Nesta certeza se impõe a liberdade humana antes de tudo e suas escolhas orientadas para o seu próprio bem e de todos da sociedade. É impensável e irracional a opção por escolhas de destruição física, mental e espiritual.

Não se trata, contudo, de um simples respeito, como os exigidos nos códigos de conduta sociais a outras pessoas ou a instituições políticas e sociais, mas a não sujeição a qualquer enquadramento em esquemas de poder ou ideológicos os quais denigram ou reduzam a natureza humana cuja alma é imortal.

Portanto, a opção pelo bem não é um ato banal como alguns podem julgar inerente à própria condição humana.

É importante destacar aqui o papel único e insubstituível da família. A pessoa humana se forma e se desenvolve dentro de um ambiente familiar. Em síntese, é na família que temos o abrigo primeiro e último garantido pelo amor gratuito, que é a sua expressão e identidade maior.

Ao Estado cabe promover e proteger a família e não legislar contra uma instituição sagrada que é notoriamente conhecida e sociologicamente confirmada como base da sociedade. Além disso, a organização familiar é anterior ao próprio Estado.

Desta forma é importante frisar que o sucesso de uma sociedade não é definido, apenas, por um progresso material, mas, antes, e, sobretudo, pelo conjunto de valores que esta sociedade abraça e nos quais ela alicerça o seu crescimento.

Valores estes, como a inalienável defesa da vida humana em todas as suas fases, desde a concepção até a morte natural. A proteção das crianças, de sua inocência e dos jovens. A atenção especial para com os que sofrem toda sorte de restrições. A proteção à família natural, formada pelo homem e pela mulher. A promoção da Verdade e da Justiça.

Uma sociedade que caminha para o aprimoramento da justiça e da paz nos corações deve servir a Verdade e jamais amputar o reconhecimento da transcendência da pessoa humana como sendo uma das virtudes essenciais e objetiva.

Tratar a pessoa humana de forma diversa a esta é tentar ser “criador” de outra pessoa. Algo passível de manipulação, semelhante a uma coisa ou a um objeto, que tem um fim específico para uso e, após, seu descarte. Falamos, então, de algo e não de alguém.

Seguindo este curso chegaremos a um limite inferior de visão tão reducionista, que desssacraliza a vida humana, tornando-a mais ínfima do que o próprio pó e mais desprotegida que o mico-leão dourado.

Toda evolução ou progresso, mesmo de métodos para combater o mal de qualquer espécie, deve ordenar-se sempre para o bem último das pessoas. Há a necessidade prévia de um julgamento moral das medidas a serem adotadas. Nada pode, neste sentido, concorrer, aberta ou veladamente, para a destruição da vida ou, numa expressão cínica, classificar a amputação pretendida, de redução de danos, que, de fato, só vem a potencializar a destruição total ou a consolidar as sequelas extremamente dolorosas que advirão para a pessoa, para a família e para a sociedade.

O ser humano é a maior expressão do Criador e da vida. Onde uma só criatura não tem dignidade nenhuma outra plenamente a tem.

O Brasil, que é o caso aqui neste encontro, vive uma das mais intensas crises morais de sua história. Escândalos de toda ordem. Notícias de assaltos permanentes aos cofres públicos; associação do Estado, que quer controlar as famílias naturais, com o crime organizado; tráfico de drogas; lavagem de dinheiro; fraudes diversas... Enfim, uma tristeza!

Só num país como o nosso, que parece ter abdicado da moral como um valor permanente e do enfrentamento real ao crime, é que se pode tentar prosperar uma hipótese de descriminalização da posse e do uso de drogas.

A democracia, a liberdade e as escolhas conscientes não têm como serem vinculadas as drogas. É evidente a propaganda enganosa! Trata-se de mais uma grande manipulação da opinião pública, que constantemente fica refém de uma visão única, dirigista e ditatorial de seguimentos poderosos, sem nenhuma compostura e altamente financiados.

A nenhum de nós escapa a gravidade da situação que vivemos. Os indicadores são claros, qualquer que seja a área considerada: a segurança pública, a economia, a saúde, a educação, a habitação, a moralidade político-administrativa. Porém, mais eloquente ainda é o tremendo mal-estar que invadiu os lares brasileiros, como consequência da perda de esperança no futuro.

O problema é realmente grave e enorme, mais de fundo cultural do que econômico ou político. Quer dizer, precisamos mais de princípios, diretrizes e ações que representem posturas no campo cultural, do que de programas ou reformas que representem posturas econômicas.

Termino sugerindo quatro pontos para a o resgate de nossa verdadeira identidade humana.

O primeiro é enfrentar-se a questão do afastamento ou abrandamento da idéia de transcendência, o que nos conduz a restabelecer uma moralidade espiritualizada, que é indispensável, porque já bem conhecemos a fragilidade da moralidade relativa que não dispõe da sanção permanente.

O segundo é enfrentar o apego excessivo aos bens materiais e às coisas passageiras desta vida, que nos levam, por consequência, à ânsia mórbida de riqueza e poder a qualquer preço – uma fantasia capaz de nos enganar da verdade de nossas existências: sua finitude terrena.

O terceiro ponto, de grande importância, é fazer reverter essa tendência anormal que se estabeleceu entre nós de desprezar os pobres, os sofridos, os desprezados, os doentes, os deficientes. Será entendendo a pobreza na dimensão espiritual, como forma de desapego natural à riqueza material, e fazendo o exercício de considerar apropriadamente o pobre e trabalhando em favor de uma ordem voltada para a justiça e a participação, que faremos o salutar exercício da solidariedade, o que nos permitirá superar a nossa atual perda de identificação com o outro.

O quarto ponto trata de combater-se o cinismo contemporâneo, essa espécie de potência do falso que se estabeleceu entre nós, que tudo invade e deforma a palavra dada, os propósitos enunciados, fazendo da sociedade brasileira o pasto do rumor, da incerteza e da mentira. Como fazê-lo? Pelo restabelecimento do valor da verdade – o que implica em trabalho educacional e exemplo de vida.

Carlos Dias.
Membro da World Federation Against Drugs - WFAD.
Membro da Drug Watch International – DWI.
Membro do Conselho de Segurança e Cidadania da Associação Comercial do Rio de Janeiro - ACRJ.

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